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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O PRETO.....O NEGRO......A AUSÊNCIA......


“ O preto é o início de tudo, o ponto de partida, a silhueta, o recipiente – e depois o conteúdo. Sem as suas sombras o seu relevo e a sua proteção, parecer-me-ia que as outras cores não existem. O preto é ao mesmo tempo a soma de todas as cores. É volúvel, cambiante, nunca é o mesmo. Existe um número infinito de tons de preto: o preto suave das roupas transparentes, o preto apagado e triste do crepe de luto, o preto nobre e profundo do veludo, o preto profuso do tafetá ou o preto forte da seda (faille), o preto esvoaçante do cetim, o preto oficial e alegre do verniz. O preto faz que a lã pareça carvão, dá ao algodão um ar rústico e confere aos tecidos novos um toque insinuante.
Não tenho relação com a neve, não gosto de leite, as noivas do meu desfile são coloridas. Só a caiadura deslumbrante das casas típicas do Mediterrâneo me abre o apetite pelo branco. Dou voltas, hipnotizo com os tons dourados e vermelhos. Dizem que essas cores juntamente com o preto são as cores da loucura (por isso, o realizador Ingmar Bergman pretendia uma casa vermelha em Lágrimas e Suspiros).
Deve acrescentar-se que o preto é um pilar do Sul, uma presença calmante, algo evidente: já falei com frequência sobre os matizes subtis do preto (como nos quadros de Frans Hals ou Velázquez), dos hábitos das freiras arlesianas da minha infância, aos quais o sol arranca reflexos diversos – afirmaria até que o preto tem um aroma que se liberta dos tecidos quando expostos ao sol. Podia dizer-se o mesmo do preto do touro, para cuja pele os aficionados entusiastas têm adjetivos poéticos.Ao contrário do branco, o preto é “penetrável”. Numa pequena mancha preta, há densidade, prazer, um mundo inteiro. E custa resistir ao preto de qualquer outra parte. Tem-se vontade de lhe tocar, de o espalhar com pincéis ou até mesmo com as mãos. O preto é tanto matéria como cor, é tanto luz como sombra (cujo hino supremo Barthes cantou). Não é triste, nem alegre, mas sim allure e elegância, perfeito e indispensável. Tal como a noite, é irresistível. As crianças não deviam temer o preto, porque se o seu mistério as assusta, é porque nele podem obter a resposta aos seus próprios segredos.” (
Christian Lacroix)

3 comentários:

Talita Ribeiro disse...

Não deixe de postar suas reflexões e matérias. Seu blog é um dos mais bem escritos que já li.

Parabêns! Voltarei muito mais vezes aqui. beijocas

Anônimo disse...

Isso é tão seu,que achei que era você que eu estava lendo!!!!
Vê se não demora a escrever estou
sentindo falta!


MÔNICA

Ciça Criatura disse...

Luis!!!!! Tá louco ou o que? Volta já pra esse blog CRIATURA. É muita malcriação deixar a gente sem post desde setembro, pelamor...