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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

FLORBELA ESPANCA


Florbela Espanca, nascida Flor Bela Lobo, (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930) foi uma poetisa portuguesa, precursora do movimento feminista em seu país, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém com a morte de Antónia em 1908, João e sua mulher Maria Espanca criam a menina. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.Em 1903 Florbela Espanca escreveu a primeira poesia de que temos conhecimento, A Vida e a Morte. Casou-se no dia de seu aniversário em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir para cursar Direito, sendo a primeira mulher a frequentar este curso na Universidade de Lisboa.Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães.O Livro de Sóror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto, e seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Lage. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.Tentou o suicídio por duas vezes em Outubro e Novembro de 1930, às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de Dezembro de 1930. Charneca em Flor viria a ser publicado em janeiro de 1931.

A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente.Florbela Espanca

Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.Florbela Espanca

Quem disser que pode amar alguém durante a vida inteira é porque mente.Florbela Espanca

É pensando nos homens que eu perdoo aos tigres as garras que dilaceram.Florbela Espanca

A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento.Florbela Espanca

Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar....Florbela Espanca

Fanatismo Minhálma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver!Não és se quer razão do meu viver,Pois que tu és já toda a minha vida!Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo, meu amor, a lerNo misterioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!E, olhos postos em ti, digo de rastros:"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."Florbela Espanca

Amar!Eu quero amar, amar perdidamente!Amar só por amar: Aqui...além...Mais Este e Aquele, o Outro e toda a genteAmar!Amar!E não amar ninguém!Recordar?Esquecer?Indiferente!...Prender ou desprender?É mal?É bem?Quem disser que se pode amar alguémDurante a vida inteira é porque mente!Há uma Primavera em cada vida:É preciso cantá-la assim florida,Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!E se um dia hei-de ser pó,cinza e nadaQue seja a minha noite uma alvorada,Que me saiba perder... pra me encontrar...Florbela Espanca

Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdadeFlorbela Espanca

Nunca fui como todosNunca tive muitos amigosNunca fui favoritaNunca fui o que meus pais queriamNunca tive alguém que amasseMas tive somente a mimA minha absoluta verdadeMeu verdadeiro pensamentoO meu conforto nas horas de sofrimentonão vivo sozinha porque gostoe sim porque aprendi a ser só...Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente. Amar só por amar.Florbela Espanca

Aos olhos deleNão acredito em nada. As minhas crençasVoaram como voa a pomba mansa;Pelo azul do ar. E assim fugiramAs minhas doces crenças de criança.Fiquei então sem fé; e a toda a genteEu digo sempre, embora magoada:Não acredito em Deus e a Virgem SantaÉ uma ilusão apenas e mais nada!Mas avisto os teus olhos, meu amor,Duma luz suavíssima de dor...E grito então ao ver esses dois céus:Eu creio, sim, eu creio na Virgem SantaQue criou esse brilho que m'encanta!Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!Florbela Espanca

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!Florbela Espanca

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem... Sou um reflexo...um canto de paisagem Ou apenas cenário! Um vaivém Como a sorte: hoje aqui, depois além! Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem De um doido que partiu numa romagem E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!... Sou um verme que um dia quis ser astro... Uma estátua truncada de alabastro... Uma chaga sangrenta do Senhor... Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados, Num mundo de maldades e pecados, Sou mais um mau, sou mais um pecador...Florbela Espanca

Sem remédio Aqueles que me têm muito amorNão sabem o que sinto e o que sou...Não sabem que passou, um dia, a DorÀ minha porta e, nesse dia, entrou.E é desde então que eu sinto este pavor,Este frio que anda em mim, e que gelouO que de bom me deu Nosso Senhor!Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!Sinto os passos de Dor, essa cadênciaQue é já tortura infinda, que é demência!Que é já vontade doida de gritar!E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,A mesma angústia funda, sem remédio,Andando atrás de mim, sem me largar!Florbela Espanca

Alma perdidaToda esta noite o rouxinol chorou,Gemeu, rezou, gritou perdidamente!Alma de rouxinol, alma da gente,Tu és, talvez, alguém que se finou!Tu és, talvez, um sonho que passou,Que se fundiu na Dor, suavemente...Talvez sejas a alma, a alma doenteDalguém que quis amar e nunca amou!Toda a noite choraste... e eu choreiTalvez porque, ao ouvir-te, adivinheiQue ninguém é mais triste do que nós!Contaste tanta coisa à noite calma,Que eu pensei que tu eras a minh'almaQue chorasse perdida em tua voz!...Florbela Espanca

AmigaDeixa-me ser a tua amiga, Amor,A tua amiga só, já que não queresQue pelo teu amor seja a melhor,A mais triste de todas as mulheres.Que só, de ti, me venha mágoa e dorO que me importa, a mim?! O que quiseresÉ sempre um sonho bom! Seja o que for,Bendito sejas tu por mo dizeres!Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...Como se os dois nascessemos irmãos,Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...Beija-mas bem!... Que fantasia loucaGuardar assim, fechados, nestas mãos,Os beijos que sonhei prà minha boca!...Florbela Espanca

TEUS OLHOS Olhos do meu Amor! Infantes loirosQue trazem os meus presos, endoidados!Neles deixei, um dia, os meus tesouros:Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.Neles ficaram meus palácios moiros,Meus carros de combate, destroçados,Os meus diamantes, todos os meus oirosQue trouxe d'Além-Mundos ignorados!Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...Enigmáticas campas medievais...Jardins de Espanha... catedrais eternas...Berço vindo do Céu à minha porta...Ó meu leito de núpcias irreais!...Meu sumptuoso túmulo de morta!...Florbela Espanca

SaudadesSaudades! Sim... Talvez... e porque não?... Se o nosso sonho foi tão alto e forte. Que bem pensara vê-lo até à morte. Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte. Deve-nos ser sagrado como o pão! Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar. Mais a saudade andasse presa a mim!Florbela Espanca

Amar!Eu quero amar, amar perdidamente!Amar só por amar: Aqui...além...Mais Este e Aquele, o Outro e toda a genteAmar!Amar!E não amar ninguém!Recordar?Esquecer?Indiferente!...Prender ou desprender?É mal?É bem?Quem disser que se pode amar alguémDurante a vida inteira é porque mente!Há uma Primavera em cada vida:É preciso cantá-la assim florida,Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!E se um dia hei-de ser pó,cinza e nadaQue seja a minha noite uma alvorada,Que me saiba perder... pra me encontrar...Florbela Espanca

Eu ...Eu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho,e desta sorteSou a crucificada ... a dolorida ...Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,Impele brutalmente para a morte!Alma de luto sempre incompreendida!...Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber porquê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,Alguém que veio ao mundo pra me ver,E que nunca na vida me encontrou!Florbela Espanca

AmigaDeixa-me ser a tua amiga, Amor,A tua amiga só, já que não queresQue pelo teu amor seja a melhorA mais triste de todas as mulheres.Que só, de ti, me venha magoa e dorO que me importa a mim? O que quiseresÉ sempre um sonho bom! Seja o que for,Bendito sejas tu por mo dizeres!Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...Como se os dois nascessemos irmãos,Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...Beija-mas bem!... Que fantasia loucaGuardar assim, fechados, nestas mãos,Os beijos que sonhei pra minha boca!Florbela Espanca

Sou talvez a visão que alguém sonhouAlguém que veio ao mundo prá me verE que nunca na vida me encontrouFlorbela Espanca

Alma perdidaToda esta noite o rouxinol chorou,Gemeu, rezou, gritou perdidamente!Alma de rouxinol, alma da gente,Tu és, talvez, alguém que se finou!Tu és, talvez, um sonho que passou,Que se fundiu na Dor, suavemente...Talvez sejas a alma, a alma doenteDalguém que quis amar e nunca amou!Toda a noite choraste... e eu choreiTalvez porque, ao ouvir-te, adivinheiQue ninguém é mais triste do que nós!Contaste tanta coisa à noite calma,Que eu pensei que tu eras a minh'almaQue chorasse perdida em tua voz!...Florbela EspancaFlorbela Espanca

Minh'alma, de sonhar-te anda perdida.Meus olhos andam cegos de te ver!Não és sequer razão do meu viverPois que tu és já toda a minha vida!Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo, meu amor, a lerNo mist'rioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!..."Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!E, olhos postos em ti, digo de rastros:"Ah! podem voar mundos, morrer astros,Que tu és como Deus: princípio e fim!..."Florbela Espanca

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